Eu estava batendo papo com um grande amigo e ele mencionou a ODS 18… eu fiquei: “ué, mas não são 17?”. E para minha (grata) surpresa até as ODS chegaram na maioridade!
Só pra recordar que a Agenda 2030 da ONU, com seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é um chamado global para construirmos um futuro mais justo e sustentável. No entanto, o Brasil, reconhecendo a importância crucial do combate ao racismo estrutural, propôs a criação da ODS 18: a Igualdade Racial.

Mas, o que é a ODS 18?
A ODS 18 tem como objetivo eliminar todas as formas de discriminação racial e promover a igualdade de oportunidades para pessoas de todas as raças e etnias. Dentro das propostas da ODS 18, temos:
- Garantir acesso equitativo à educação antirracista e de qualidade para todas as etnias.
- Promover equidade na saúde, combatendo o racismo institucional no atendimento e acesso.
- Assegurar igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, com foco em combate à discriminação racial.
- Reforçar o acesso à justiça racial, combatendo práticas discriminatórias no sistema judicial.
- Criar e implementar políticas públicas para moradia digna, considerando territórios tradicionalmente ocupados por populações racializadas
A proposta busca garantir que políticas públicas e ações de desenvolvimento considerem as necessidades específicas das populações negras e indígenas, que historicamente enfrentam maiores desigualdades.
Benefícios Econômicos para Empresas que Adotam a Perspectiva da ODS 18:
A integração da perspectiva da ODS 18 nas práticas empresariais, dentro da agenda ESG, não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente com impactos econômicos positivos a longo prazo. Empresas que genuinamente se comprometem com a diversidade e inclusão racial podem colher diversos benefícios:
- Melhor Compreensão do Mercado e Maior Alcance: Em um país como o Brasil, com sua vasta diversidade racial, empresas que incorporam a perspectiva racial em suas estratégias de marketing e comunicação tendem a alcançar um público mais amplo e a construir conexões mais autênticas com diferentes segmentos de consumidores. Compreender as nuances culturais e as necessidades específicas de diferentes grupos raciais pode gerar campanhas de marketing mais eficazes e produtos mais relevantes.
- Atração e Retenção de Talentos: Profissionais qualificados, especialmente as novas gerações, valorizam empresas que demonstram um compromisso genuíno com a diversidade e a inclusão. Uma reputação de empresa que respeita e valoriza a diversidade racial pode atrair talentos diversos e aumentar o engajamento e a lealdade dos funcionários, reduzindo custos com rotatividade e aumentando a produtividade.
- Fortalecimento da Reputação e da Marca: Em um contexto global onde a responsabilidade social e a ética empresarial são cada vez mais importantes para os consumidores e investidores, empresas que atuam ativamente contra o racismo e promovem a igualdade racial fortalecem sua imagem de marca e constroem uma reputação positiva. Isso pode gerar maior confiança por parte dos clientes, investidores e da sociedade em geral, impactando positivamente o valor da marca e a lealdade do cliente.
- Redução de Riscos e Passivos: Empresas que ignoram a questão racial em suas práticas podem estar mais expostas a riscos legais, regulatórios e reputacionais. Casos de discriminação racial podem gerar litígios dispendiosos, danos à imagem da empresa e boicotes de consumidores. Adotar uma postura proativa em relação à igualdade racial pode mitigar esses riscos e proteger o valor da empresa a longo prazo.
- Acesso a Novos Investimentos e Financiamentos: Investidores com foco em ESG estão cada vez mais atentos ao desempenho social das empresas, incluindo suas práticas de diversidade e inclusão racial. Empresas com um forte compromisso com a igualdade racial podem ter maior facilidade em atrair investimentos e obter melhores condições de financiamento.”

A Relação da ODS 18 com a Agenda 2030
No contexto ESG, a ODS 18 amplia o escopo do pilar Social (S), reforçando a importância de práticas empresariais que:
- Implementem diversidade e inclusão racial de forma estruturada e contínua;
- Mapeiem e corrijam desigualdades salariais e de acesso a cargos de liderança;
- Desenvolvam relatórios ESG com recorte racial, promovendo maior transparência.
Empresas que atuam de forma ativa contra o racismo fortalecem sua reputação, geram impacto positivo e alinham suas ações com um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e justo.
Ainda não reconhecida oficialmente pela ONU, a ODS 18 vem ganhando força em espaços de debate internacional – especialmente no Brasil-, sendo incorporada por redes, movimentos e até governos locais que desejam levar a pauta racial para o centro da estratégia de desenvolvimento.
Se a Agenda 2030 busca “não deixar ninguém para trás”, a ODS 18 propõe olhar de frente para quem historicamente sempre ficou para trás.
Desafios e Oportunidades para o Reconhecimento Internacional da ODS 18:
Embora a proposta do ODS 18 tenha um potencial transformador, o caminho para seu reconhecimento formal pela Organização das Nações Unidas (ONU) não é fácil e alguns pontos devem ser considerados:
- Desafios:
- Consenso Global: A inclusão de um novo ODS na Agenda 2030 requer um amplo consenso entre os 193 Estados-membros da ONU. Convencer todos os países da necessidade e urgência de um ODS específico para a igualdade racial pode ser um processo complexo, dadas as diferentes prioridades e contextos nacionais. Precisa nem falar muito sobre isso né?
- Prioridades Existentes: A Agenda 2030 já possui 17 ODS amplos e interconectados. Convencer a comunidade internacional a adicionar um novo objetivo pode demandar um argumento convincente sobre a lacuna que ele preenche e como ele acelera o progresso em direção aos ODS existentes.
- Processos Burocráticos da ONU: A aprovação de um novo ODS envolve processos burocráticos complexos dentro da ONU, incluindo debates em diferentes comitês e a necessidade de aprovação pela Assembleia Geral.
- Oportunidades:
- Liderança do Brasil (motivo de orgulho imenso): A iniciativa do Brasil coloca o país na vanguarda da discussão sobre a importância da igualdade racial para o desenvolvimento sustentável. Essa liderança pode inspirar outros países com históricos de desigualdade racial a se juntarem à causa.
- Apoio Crescente: A crescente conscientização global sobre a injustiça racial e o movimento antirracista podem gerar um apoio político e social significativo para a proposta do ODS 18 em nível internacional.
- Engajamento da Sociedade Civil: O engajamento ativo de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e especialistas em direitos humanos de todo o mundo pode exercer pressão sobre os governos e a ONU para que a proposta do ODS 18 seja reconhecida.
- Fóruns Internacionais: A participação ativa do Brasil em fóruns internacionais, como o G20 e as conferências da ONU, é uma oportunidade para apresentar a proposta, dialogar com outros países e construir alianças estratégicas.”

E as outras ODS, como ficam?
A igualdade de oportunidades e o combate à discriminação são temas transversais aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Embora o Brasil esteja propondo um ODS 18 específico para a igualdade racial, outros ODS já abordam essas questões de forma abrangente.
Aqui estão os principais ODS que tratam da igualdade de oportunidades e da discriminação:
- ODS 5: Igualdade de Gênero:
- Este ODS busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.
- Ele aborda a discriminação e a violência contra mulheres e meninas, a desigualdade no acesso à educação e ao emprego, e a necessidade de garantir a participação plena e efetiva das mulheres em todos os níveis de tomada de decisão.
- ODS 10: Redução das Desigualdades:
- Este ODS visa reduzir as desigualdades dentro e entre os países.
- Ele aborda a discriminação com base em raça, etnia, religião, gênero, deficiência e outras características, e busca garantir a igualdade de oportunidades para todos.
- ODS 16: Paz, Justiça e Instituições Eficazes:
- Este ODS busca promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
- Ele aborda a discriminação e a violência, e busca garantir o acesso igualitário à justiça e a proteção dos direitos humanos.
É importante notar que a igualdade de oportunidades e o combate à discriminação são temas que se relacionam com todos os ODS. Por exemplo, a educação de qualidade (ODS 4) e o trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8) são essenciais para garantir a igualdade de oportunidades para todos.
A proposta do ODS 18 do Brasil complementa esses ODS, destacando a necessidade de um foco específico na igualdade racial para enfrentar as desigualdades históricas e estruturais que afetam as populações negras e indígenas.
Por que a ODS 18 é importante?
O Brasil, com sua rica diversidade étnico-racial, reconhece a necessidade de enfrentar as desigualdades raciais para construir um futuro mais justo e sustentável. A criação de um ODS específico para a igualdade racial pode:
- Inspirar outros países a adotarem medidas semelhantes.
- Demonstrar o compromisso do Brasil com a promoção dos direitos humanos.
- Fortalecer as políticas públicas de promoção da igualdade racial no país.
- Representar um marco histórico na luta contra o racismo em nível global.
A proposta do ODS 18 é um passo importante para construirmos um futuro mais justo e igualitário para todos, considerando as especificidades históricas e sociais desses grupos para que as políticas públicas sejam verdadeiramente inclusivas e reparadoras. Juntos, podemos fazer a diferença!

E aqui no Sustentabilidade Agora, continuamos com nossa missão de deixar vocês informados e atualizados sobre o que está acontecendo no cenário ESG. Se tiver outro tema pra compartilhar, vem com a gente!