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Se você quer criar um relatório GRI (Global Reporting Initiative) para auxiliar a sua empresa no desenvolvimento de estratégias de longo prazo e para obter uma vantagem competitiva em relação aos seus concorrentes, recomendo conhecer todos os detalhes dessa norma.

Já te aviso que esse vai ser um artigo um pouco mais técnico, mas que eu garanto que se você quer uma ajuda para fazer o relatório GRI da sua empresa e está um pouco perdido(a), vai ser essencial.

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Eu também já tive essa dificuldade antes de começar a estudar o tema mais a fundo e foi só depois de me certificar nos Padrões GRI para o Relato de Sustentabilidade de acordo com as normas revisadas de 2021 que fiquei mais seguro e compreendi completamente como fazer um Relatório GRI.

Por isso, ao longo desse artigo eu vou mastigar tudo que aprendi sobre o Relatório GRI e te mostrar o que é realmente essencial saber se você quer fazer o seu Relatório GRI ou se quiser supervisionar de maneira correta o trabalho de uma consultoria.

O que é o Global Reporting Initiative (GRI) e a sua importância

Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização internacional, sem fins lucrativos e pioneira no desenvolvimento de uma estrutura de relatos sustentáveis para auxiliar empresas, governos e instituições a comunicar o impacto de sua atividade no mundo. 

Essa iniciativa foi criada em Boston no ano de 1997 por duas outras organizações, a Coalition for Environmentally Responsible Economie (Ceres) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e se tornou ao longo dos anos o padrão de relato de sustentabilidade mais usado no mercado. 

Então se você está pensando se vale a pena se dar ao trabalho de passar por todo esse processo para criar um Relatório GRI e não fazer um outro qualquer, eu te garanto que esse é o melhor caminho a se seguir. Algumas das razões para isso:

  • Melhorar o desempenho de sustentabilidade do seu negócio
  • Melhorar a gestão de riscos e as comunicações com os investidores
  • Envolver seus stakeholders e melhorar as relações com eles
  • Motivar e engajar seus colaboradores
  • Construir credibilidade como uma empresa ética e transparente
  • Fortalecer os sistemas internos de gerenciamento de dados e relatórios
  • Melhorar a estratégia de sustentabilidade e a seleção de indicadores e metas
  • Maior comparabilidade de sustentabilidade com sua própria empresa e concorrentes

Só para você ter uma ideia, em uma pesquisa feita pela consultoria KPMG, 85% das empresas brasileiras que participaram elaboram relatórios sustentáveis. E dessas, 72% utilizam as normas GRI como padrão desse relato.

relatório GRI - estudo KPMG

Ou seja, se você quer seguir um padrão mundialmente aceito, faz bem em fazer um relatório GRI, que além de muito bom está disponível gratuitamente.

O que é um relatório GRI

Então deixa eu te falar do Relatório GRI propriamente dito. Esse é um relatório de sustentabilidade que usa como base os padrões e normas do Global Reporting Initiative e é uma ferramenta voltada ao gerenciamento e comunicação das ações, resultados e indicadores ambientais, sociais e econômicos (de certa forma, muito próximo do que acreditamos ser o ESG) nas empresas.

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Conhecendo como usar o GRI

Eu sempre tive um pouco de dificuldade de entender o que era exatamente o GRI e, mais ainda, como é na prática a aplicação dessas normas e padrões. Por isso, vou explicar cada detalhe para que você termine esse post com um entendimento completo sobre como fazer o seu relatório GRI.

Para começar, esse é um sistema modular com várias “pastas”, permitindo atualizações pontuais sem necessidade de uma atualização do modelo inteiro. Cada pasta ou caderno tem uma série de conteúdos e instruções que devem aparecer dentro do relatório GRI que você vai criar na sua empresa.

Ou seja, em resumo, enquanto você estiver escrevendo o seu relatório de sustentabilidade, vai precisar mencionar esses detalhes que aparecem em cada um dos cadernos. Veja um exemplo do relatório GRI de sustentabilidade da Eneva:

relatório GRI - relatorio de sustentabilidade eneva

Observe que para a análise de materialidade, esse documento aponta que usa como referência o caderno GRI 102-44 e para cada tópico material (relevante) levantado, existe uma correlação com as normas GRI.

Na prática, é isso que você quer fazer, a cada página e informação adicionada no seu relato, mencionar a correlação com os tópicos obrigatórios indicados nas normas da Global Reporting Initiative.

9 Requisitos para a opção “Em Conformidade”

Agora, existem 2 formas de fazer um relatório GRI:

  • Em Conformidade
  • Com Referência

A opção “com referência” só indica que você levou em consideração o GRI, mas não seguiu todas as suas normas e recomendações à risca, ou seja, usou como um apoio. Apesar de ser mais rápido e fácil, só fazer referência não faz o seu relato ser considerado um Relatório GRI.

Caso você queira realmente falar que fez um relatório GRI terá que considerar a opção “em conformidade”, que possui 9 requisitos a serem seguidos. Na prática, esse é o passo a passo oficial (que pode ser encontrado no caderno GRI 1 – Fundamentos) para fazer o relatório da sua empresa:

  1. Aplicar os princípios do relato (exatidão, equilíbrio, clareza, comparabilidade, confiabilidade, contexto sustentável, tempestividade, verificabilidade)
  2. Relatar os conteúdos do GRI 2 (30 conteúdos gerais que devem ser respondidos de acordo com a realidade da empresa)
  3. Determinar os temas materiais que são mais relevantes para a empresa (consultando as normas setoriais do GRI disponíveis)
  4. Relatar os conteúdos do GRI 3 – Temas Materiais
  5. Relatar os conteúdos das Normas Temáticas GRI para cada tema material (ou seja, para cada tema relevante listado, ver a relação com os cadernos temáticos)
  6. Fornecer razões para a omissão de conteúdos e requisitos que a empresa não usa (deixando claro o motivo de ter deixado aquele conteúdo de fora)
  7. Publicar o sumário do conteúdo GRI (conforme exemplo que vou mostrar mais abaixo no tópico Exemplo Prático de Criação do GRI)
  8. Fornecer uma declaração de uso (um parágrafo que deve ser inserido no Sumário indicando que o relatório GRI está “em conformidade” e o período da análise)
  9. Notificar o GRI pelo email reportregistration@globalreporting.org indicando o nome da empresa, o link para o sumário GRI, um link para o relatório GRI, a declaração de uso e um contato de alguém da organização

Entendendo os cadernos GRI

Bom, se você vai ter que referenciar essas normas e cadernos, vale a pena entender onde encontrá-los e, basicamente o GRI divide seus conteúdos em diferentes cadernos:

relatório GRI - cadernos GRI Standards

Essas numerações que aparecem na capa e no título de cada caderno (como você pode ver na imagem acima) tem seu próprio padrão. Sempre que você encontrar um caderno com 1 algarismo (1), isso indica um padrão universal que é aplicado para todas as empresas que querem fazer um relatório GRI. Se forem 2 algarismos (11), é indicação do padrão setorial (que só se aplica quando sua empresa está naquele setor indicado) e 3 algarismos (201) mostra o padrão temático (que tem relação com os temas materiais levantados na sua avaliação de materialidade e contexto da empresa), que é subdividido nos que começam com 2 (econômico), 3 (ambiental) ou 4 (social).

Deixa eu te explicar um pouco mais desses cadernos:

Padrões Universais (3 cadernos verdes – GRI 1, 2 e 3)

Esses aqui são obrigatórios para qualquer negócio, ou seja, se você quer fazer um relatório GRI vai ter que refernciar cada um dos tópicos e conteúdos que estão nesses cadernos (exceto quando for um item não aplicável ao seu negócio. Nesse caso, é necessário justificar a omissão)

Padrões Setoriais (Diversos cadernos marrons – GRI 11, 12, 13, etc)

Como o próprio nome já diz, esses cadernos são específicos para determinados setores. Ou seja, você só vai analisar se a sua empresa fizer parte de algum caderno setorial já publicado.

No momento (para o padrão do GRI de 2021) só temos a tradução para o português do caderno setorial para empresas de Petróleo e Gás (GRI 11). Se você olhar as versões em inglês ainda encontrará os cadernos para os setores de carvão e agricultura, aquicultura e pesca.

Caso sua empresa não se enquadre nesses setores já publicados e ainda não tenha um relativo ao setor do seu negócio, basta não usar os cadernos setoriais.

Padrões Temáticos (Diversos cadernos roxos – GRI 201, 305, 403, etc)

No caso dos padrões temáticos, você só vai usar esses cadernos se algum tema material (relevante) listado na sua avaliação de materialidade tiver relação com eles. Alguns dos cadernos temáticos já publicados (na versão de 2016) são:

  • GRI 201 – Desempenho Econômico
  • GRI 205 – Combate à Corrupção
  • GRI 302 – Energia
  • GRI 306 – Resíduos
  • GRI 402 – Relações de Trabalho
  • GRI 406 – Não Discriminação

Essa definição dos cadernos setoriais é um pouco mais subjetiva e depende de uma avaliação dos temas materiais e da realidade da empresa analisada.

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Exemplo

Então só para dar um exemplo, se você está fazendo o Relatório GRI da Petrobras, que é uma empresa que está no setor de petróleo e gás e que tem como um dos seus temas materiais listados a Resiliência Climática e Transição para Economia de Baixo Carbono, vai precisar usar os seguintes cadernos:

  • GRI 1, 2 e 3 (que devem ser usados para qualquer empresa)
  • GRI 11 – Setorial de Petróleo e Gás (setor que a Petrobras atua)
  • GRI 205 – Temático de Combate à Corrupção (por conta dos escândalos recentes)
  • GRI 302 – Energia (por usar muita energia)
  • GIR 306 – Resíduos (por gerar muitos resíduos)
  • GRI 402 – Relações de Trabalho (por empregar muitos funcionários)

Esse é só um exemplo, pelo porte e variáveis envolvidas a Petrobras precisaria avançar em diversos outros cadernos temáticos para fazer o seu Relatório GRI.

A maior parte do que eu falei até aqui já é o padrão das normas GRI atualizadas para o ano de 2021 e é um pouco diferente do padrão anterior que era de 2016. Para entender um pouco mais, recomendo que você baixe os cadernos GRI 1, 2, 3, 11, 201 e o glossário das normas. 

Para fazer o download dos cadernos traduzidos para o português, basta seguir esse link.

Atualização 2021 das normas GRI 

Se você é novo com os relatórios GRI, saiba que um novo formato será aplicado a partir de 2023 (esse mesmo que estou te mostrando), mas se você já usa o GRI há algum tempo, terá que conhecer o que mudou.

As mudanças não foram poucas e só para dar alguns exemplos, o formato da análise de materialidade (relevância) mudou bastante não sendo mais obrigatória a famosa matriz de materialidade (a avaliação continua sendo essencial) e algumas nomenclaturas mudaram também.

Eu separei aqui um vídeo do próprio GRI explicando as alterações dos cadernos universais do padrão de 2016 para o de 2021. Uma outra ferramenta é essa planilha com o mapeamento das mudanças que ocorreram que, apesar de ser um pouco confusa, é útil.

Para você que está começando, basta ter certeza que está usando o padrão 2021 que estará no caminho certo.

Estrutura das Normas GRI

Como você deve estar começando a perceber, se aprofundar no GRI é um pouco mais complexo do que um passeio no parque, mas como calma e conteúdo a gente chega lá.

O próximo passo importante é entender a estrutura da norma, afinal de contas, quando você estiver montando o seu relatório GRI de sustentabilidade, terá que levar em consideração cada uma das normas aplicáveis ao seu negócio.

Essa é a estrutura padrão de cada norma:

relatório GRI - estrutura padrão da norma GRI

Veja que cada conteúdo é identificado de maneira específica (ex. 301-1 Materiais usados por peso ou volume), que os requisitos são mostrados em negrito, que qualquer termo sublinhado tem sua definição linkada ao glossário e que algumas recomendações são indicadas pelas palavras “deveriam” e “podem”.

Exemplo prático de criação do GRI

Como os padrões GRI 2021 só começarão a ser utilizados obrigatoriamente a partir dos relatos apresentados em 2023, fica difícil encontrar bons exemplos do uso com a norma atualizada. Por isso, para esse exemplo (e só agora) eu vou mostrar um exemplo prático usando as normas de 2016 com o relatório da Petrobras de 2021 como exemplo.

Para começar, vou fazer o processo inverso, começando a olhar para o final que é o sumário GRI (documento que faz parte do relatório e que faz menção a todas as normas utilizadas). Fui especificamente na parte que mostra as referências para um dos temas materiais da Petrobras (Resiliência Climática e Transição para Economia de Baixo Carbono).

Veja que o sumário GRI indica qual padrão é utilizado (2016), qual referência de norma usa (302-1), para qual indicador (consumo de energia dentro da organização), em quais páginas essa informação se encontra (130 e 131) e a correlação com ODS, Pacto Global e outras organizações.

relatório GRI exemplo 1

A partir dessa informação, podemos ir no relatório nas páginas indicadas e encontrar a forma como o relatório GRI foi escrito, veja a página 130 do relatório:

relatório GRI exemplo 2

Como mencionado, essa parte do relatório fala sobre o padrão 302-1, que faz parte do caderno temático 302. Por isso, fui no site do GRI e fiz o download desse caderno. Veja que o sumário indica exatamente o indicador de Consumo de Energia dentro da Organização:

relatório GRI exemplo 3

Agora, basta ir na página indicada para analisarmos. Como são mais de 2 páginas de conteúdo, vou mostrar só o começo:

relatório GRI exemplo 4

Observe que para essa norma específica a organização (no nosso exemplo, a Petrobras) precisa obrigatoriamente informar:

  • consumo total de combustível oriundo de fontes não renováveis (esse é exatamente o gráfico mostrado na imagem 2 dessa seção)
  • consumo total de combustível oriundo de fontes renováveis
  • consumo de eletricidade, aquecimento, resfriamento e vapor

A forma como esse requisitos vão ser escritos e informados depende de quem está criando, desde que os conteúdos sejam expostos de maneira clara.

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Sugestões do CEBDS de mudanças no relatório GRI

Como tudo no mundo pode melhorar, resolvi trazer as sugestões que o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) deu para o GRI.

Na minha opinião, um dos poucos problemas do GRI é que ele é muito descentralizado (com muitos cadernos) e com textos nem sempre tão simples de se entender. Para quem é especialista não chega a ser um problema, mas para quem está começando a aprender pode ser uma barreira.

Já o CEBDS que tem uma agenda mais específica, tem as seguintes sugestões:

  • Oferecer diretrizes claras sobre a origem do impacto ambiental
  • Priorizar a descrição das ações praticadas pela empresa para gerir os impactos
  • Estruturar um Grupo de Trabalho sobre indicadores de biodiversidade
  • Garantir que os indicadores tragam informações úteis às partes interessadas;
  • Definir critérios para fins de comparação entre as empresas
  • Provocar esforços de alinhamento com outros relatórios da empresa
  • Incorporar indicadores específicos para Serviços Ecossistêmicos
  • Aprimorar o indicador para exposição de custos com proteção ambiental.

2 Exemplos de empresas que fazem Relatório GRI

Antes de entrar no passo a passo que usamos aqui na Norte, deixa eu te mostrar 2 exemplos de empresas que fazem relatórios baseados no GRI. Vale lembrar que a grande maioria dos relatórios de sustentabilidade usam o padrão GRI, então se você tiver interesse basta fazer uma busca no Google que com certeza encontrará muitos exemplos para se inspirar:

1 – Relatório de Sustentabilidade Paypal 2021

relatório GRI paypal 0

O PayPal é uma empresa de tecnologia com foco financeiro. Na prática é uma carteira digital que você pode usar para pagar e receber por transações. Abaixo eu mostro uma parte do que eles chamam de Tabela de Performance ESG:

relatório GRI paypal 1

Na prática, essa parte do relatório GRI deles funciona como um sumário GRI e tem as indicações das normas utilizadas para cada indicador importante.

Você pode baixar o relatório aqui.

2 – Relatório ESG Serica Energy 2021

relatório GRI serica 1

A Serica é uma empresa britânica independente de gás e petróleo com operações centradas no Mar do Norte do Reino Unido. Abaixo eu mostro uma página do Sumário GRI que se encontra no apêndice 5 do relatório ESG deles:

relatório GRI serica 2

Uma coisa que eu gostei bastante desse relatório é o fato de já usar a terminologia ESG, indicando uma preocupação com esses 3 pilares que consideramos tão importantes por aqui.

Se quiser viualizar o documento inteiro, basta acessar por aqui.

5 passos para fazer o relatório de sustentabilidade da sua empresa

Fazer um relatório GRI não precisa ser um bicho de sete cabeças. Eu gosto de seguir esses 5 passos:

  • Passo 1 – Entenda porque você está fazendo o relatório
  • Passo 2 – Determine as prioridades do seu relatório de sustentabilidade
  • Passo 3 – Construa a estrutura e levante dados
  • Passo 4 – Finalize o relato e comunique
  • Passo 5 – Revisão, aprendizado e preparação

Se quiser ver o passo a passo completo, sugiro que veja no meu post sobre relatórios de sustentabilidade, onde consegui detalhar um pouco mais cada uma dessas etapas. Caso você esteja confuso e precise de uma ajuda profissional para construir para ou com você o relatório GRI da sua empresa, me manda uma mensagem que vai ser um prazer te ajudar a ter uma empresa mais sustentável, transparente e com melhores resultados.

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Rafael Avila

Carioca, empreendedor, sócio fundador da LUZ, professor de Excel, consultor e um apaixonado por produtividade. Acredito no poder que temos de ser as nossas melhores versões todos os dias.

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