Se você ouviu recentemente a sigla ESG, pode ter ficado impressionado e achando uma grande inovação, mas não se deixe enganar tão facilmente, essa sigla é uma evolução dos princípios da sustentabilidade que já existem há bastante tempo.
O que significa ESG
A sigla ESG significa melhores práticas ambientais, sociais e de governança (das iniciais em inglês Environment, Social and Governance).
Basicamente, você pode dizer que um negócio é ESG quando ele diminui seu impacto ambiental o máximo possível, tem ações para desenvolver um mundo mais justo socialmente e mantém boas práticas de gestão.
Isso não significa que de um dia para o outro começamos a ter gestores que abraçam causas ambientais e são super sustentáveis, mas de fato é um avanço em relação à maneira de se avaliar empresas de acordo com o seu impacto nessas três áreas.
Para o mundo da sustentabilidade é a nova moda, o “termo do momento”, principalmente quando se fala em investimento de impacto. A sustentabilidade tem sido mais relevante dentro de diversas áreas de mercado, especialmente no que tange investimentos de impacto. Para você ter uma ideia, ao fazer uma busca no Google por “ESG” você vai notar que a grande maioria dos resultados de busca que aparecem são de empresas de investimento de alguma forma.
Nesse exemplo rápido que peguei aqui você consegue ver que os três primeiros resultados são links patrocinados da Bloomberg, S&P e Genial Investimentos, enquanto o primeiro resultado de busca orgânica é da XP.
Já vou falar um pouco mais sobre isso, mas antes vamos entender como a sigla ESG surgiu.
Origem da sigla ESG
É possível falar que a sigla ESG surgiu em 2005 no relatório “Who Cares Wins” (“Ganha quem se importa”, em tradução livre), desenvolvido por uma iniciativa liderada pela ONU.
Mas se foi há cerca de 16 anos atrás que tivemos a aparição desse termo, porque demorou tanto tempo para ele entrar em voga e se tornar a o termo relevante do momento?
Eu me arrisco a dizer que o caminho é bem mais longo do que isso que acompanha e vem ganhando força com os grandes momentos sobre os debates de sustentabilidade no mundo.
Tentando voltar um pouco mais e fazer uma breve cronologia sobre momentos marcantes da sustentabilidade que culminaram com a sigla ESG, vale lembrar:
- Talvez um dos marcos iniciais foi a Conferência de Estocolmo, de 1972 com discussões sobre ecodesenvolvimento;
- O relatório de Brundtland, em 1987, que definiu o conceito de desenvolvimento sustentável;
- Em 1992 tivemos a Eco-92, conferência das nações unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento;
- O triple bottom line (ambiental, social e econômico), o tripé da sustentabilidade, criado por John Elkington em 1994;
- Tivemos o protocolo de Kyoto aprovado na Rio+5, em Nova York no ano de 1997;
- O relatório “Who Cares Wins” (citado acima), de 2005, que aproximou bancos e empresas de investimento dos conceitos mais importantes de sustentabilidade;
- Mais recentemente em 2015 tivemos a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, onde foi aprovada a agenda 2030 e os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).
Deu pra perceber que não é uma inovação né? É uma evolução constante e um cabo de guerra sem fim em relação ao que se pode tentar fazer para termos um futuro mais sustentável e a destruição sem precedentes que existe no mundo atual
Mas não vamos entrar aqui em uma crítica (merecida e justa) à nossa sociedade consumista, pouco sustentável e destruidora nesse momento, vamos entender um pouco mais a parte boa da ESG e com que as empresas precisam se preocupar se querem ser denominadas dessa forma.
Entendendo os 3 fatores da sigla
Esses sãos os 3 fatores da sigla ESG:
E = Environment = Conservação do Meio Ambiente
- Pegada de carbono
- Aquecimento global
- Poluição do ar e da água;
- Biodiversidade;
- Desmatamento;
- Energias renováveis;;
- Gestão de resíduos;
- Escassez de água.
S = Social = Relação com a sociedade e seu entorno
- Condições de trabalho
- Satisfação dos clientes;
- Diversidade da equipe;
- Engajamento dos funcionários;
- Relacionamento com a comunidade;
- Segurança e qualidade do produto
G = Governance = Gestão da empresa
- Composição da Diretoria e do Conselho;
- Conduta corporativa;
- Relação com entidades do governo e políticos;
- Ética nos negócios
- Solidez financeira
- Existência de um canal de denúncias
Investimentos e sustentabilidade
Essa parece muito com uma tendência do setor de investimentos para dar mais visibilidade para algumas empresas. Não me entenda mal, o tema é extremamente relevante e é muito bom ver as empresas se envolvendo com práticas cada vez mais sustentáveis, mas não dá para virar os olhos para a “necessidade de se diferenciar” de outros negócios dizendo que “é ESG”.
Me lembra de certa forma o termo “greenwashing” (maquiagem verde) que ouvi pela primeira vez quando fazia minha faculdade de turismo há quase duas décadas atrás.Caso você queira desbravar essa área e estar na linha de frente, pode começar a utilizar os critérios ESG para investir.
Nesse sentido, o mercado oferece algumas opções de investimentos sustentáveis e rentáveis na bolsa brasileira (B3), que possui índices de empresas com padrões de governança mais altos.
Você ainda tem fundos de investimentos ou Certificados de Operações Estruturadas (COEs) com empresas que atendam parâmetros de desenvolvimento sustentável e no exterior, existem ETFs que acompanham papéis ESG, como o Índice Dow Jones de Sustentabilidade.
O problema dos indicadores de sustentabilidade
Para você ter uma ideia, em 2018, 85% das companhias listadas no índice S&P 500, da Bolsa de Nova York, produziram alguma forma de relato ESG. Isso por si só, mostra (sendo moda ou não) que mais gestores estão se preocupando com o assunto.
Mas quando falamos de relatos de desempenho, é quase impossível não falar de indicadores e você pode estar se perguntando agora como definir se uma empresa opera pelos princípios ESG ou não?
Atualmente você tem o papel de agências e fundos de investimento que mensuram o desempenho das empresas de acordo com os critérios ESG e fazem um ranking para nortear investidores.
Mas se elas são as mais interessadas em receber investimentos, o quão a sério podemos levar essas análises? O que passa pela minha cabeça é entender quem avalia isso e quais os interesses que existem por trás…
Próximos passos? Pra onde vai?
O Google e a Impax fizeram uma pesquisa com mais de 300 investidores com pelo menos R$3,5 Milhões em economias e investimentos de longo prazo. O grande objetivo era entender seus posicionamentos em relação às mudanças climáticas e, indiretamente ao assunto do nosso artigo de hoje relacionado à ESG. Algumas das conclusões foram:
- 70% se disseram preocupados com as mudanças climáticas
- 15% tomaram medidas de investimento em energias renováveis
- 33% afirmaram ter investimentos com foco em energia limpa ou sustentabilidade.
Eu sempre fico com uma pulga atrás da orelha com pesquisas desse tipo, afinal o papel aceita qualquer resposta e a realidade que a gente vê e convive de empresas está longe de ser tão positiva.
De toda forma, eu fico feliz quando vejo indícios que mostram alguma mudança nesse cenário, afinal de contas, melhor ter esse avanço e preocupação (independentemente se a motivação é mais financeira ou não), do que ter apenas o descaso de décadas atrás.