A indústria da moda: como diminuir seu impacto no planeta

Indústria da moda: sua importância e seus impactos

As roupas são muito importantes para nós, além de trazer proteção e conforto, elas, muitas vezes, representam uma forma de expressar sua personalidade, suas ideias, sua individualidade. As roupas fazem parte da cultura de um lugar e empregam milhares de pessoas no mundo todo. 

Mas o que a gente não pensa muito é no impacto que o consumo de roupas tem no nosso planeta, na nossa casa.

Como a indústria têxtil opera em um modelo linear significa que uma grande quantidade de recursos não renováveis são extraídos da natureza para serem usados na produção das roupas que na maioria das vezes são usadas poucas vezes e depois, muito provavelmente, são depositadas em aterros sanitários ou incineradas. 

Mais de 500 bilhões de dólares são perdidos todos os anos devido a pouca utilização das roupas e a falta de reciclagem.

Roupas não são descartáveis

Nós temos que mudar essa ideia de que roupas são itens descartáveis. Quem nunca entrou em uma loja de “fast fashion” (padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados – literalmente – rápido) e comprou várias peças por um valor baixo que em menos de 6 meses foram descartadas?

Você já parou para pensar o porquê dessas peças terem um valor mais baixo? O que teve que acontecer para elas chegarem ao consumidor final com um baixo valor agregado? Qual é a qualidade daquele material, quanto tempo ele vai durar, quanto os costureiros receberam para fazer aquela peça?

Além de todas as outras consequências negativas que uma cadeira de produção sem responsabilidade social e ambiental gera: a indústria da moda é responsável por 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano, o que supera a aviação comercial e a indústria naval.

O rápido crescimento do problema

Nos últimos 15 anos a produção de roupas praticamente dobrou, isso aconteceu principalmente pelo crescimento da classe média mundial combinado com o surgimento e fortalecimento do fenômeno do “fast fashion”. A todo momento nós somos influenciados a comprar, comprar, comprar. A moda muda mais rápido do que as estações (coleção outono inverno, verão, alto verão, primavera verão e por aí vai). Sempre tem uma novidade, uma tendência, a última sensação. Mas o que esse consumo desenfreado causa?

É estimado que 98 milhões de toneladas de recursos naturais não renováveis sejam usados todos os anos nesse mercado: incluindo petróleo para produzir as fibras sintéticas, fertilizantes, produtos químicos e outros. Além da quantidade absurda de água usada também na produção têxtil: aproximadamente 93 bilhões de metros cúbicos anualmente. 
E junto com todas essas questões, hoje já sabemos que a indústria têxtil é uma grande contribuidora para a poluição plástica mundial dos oceanos. Milhões de toneladas de microfibras de plástico que são liberadas com a lavagem de tecidos como o poliéster, nylon, ou acrílico terminam nos nossos mares trazendo consequências trágicas para o nosso ecossistema e nossa saúde.

A mudança na indústria e o nosso papel

Estudando mais sobre esse assunto eu me deparei com um grande estudo feito pela fundação Ellen MacArthur sobre a indústria têxtil mostrando e analisando seus grandes problemas mas também mostrando a ambição de uma reforma no mercado: uma economia baseada nos princípios da economia circular. 

Esse estudo mostra uma vontade grande do mercado de realizar essa transformação e um aumento da consciência tanto da indústria como dos consumidores.

“Eu acredito que a economia circular traz oportunidades sem precedentes para o setor da moda”

EVA KRUSE, CEO, GLOBAL FASHION AGENDA

Vamos analisar as 4 ambições que vão ajudar essa transição para uma nova indústria têxtil:

1. Eliminar substâncias preocupantes da cadeia de produção.

Alinhar os esforços da indústria com inovação para criar um ciclo com materiais seguros e diminuir drasticamente o uso de microfibras que contém plástico.

2. Transformar o modo que as roupas são feitas, vendidas e usadas. Quebrar o ciclo de “roupas descartáveis”

Incentivar o aluguel de roupas (isso já é uma tendência mundial em outros setores: Uber, Airbnb) e incentivar igualmente a produção de roupas que duram. 

3. Melhorar radicalmente a reciclagem.

Investir em tecnologias que conseguem identificar os materiais recicláveis no processo e que conseguem melhorar a economia e a qualidade da reciclagem.

4. Usar de forma efetiva os recursos

Usando matéria-prima renovável para fibras à base de plástico e agricultura regenerativa para produzir quaisquer recursos renováveis.

Além disso, a transição para processos de produção eficientes e mais eficazes.

Por experiência pessoal eu posso te garantir que quando mudamos nosso olhar para a moda conseguimos ver de forma mais clara os nossos impactos e as transformações nos nossos hábitos acontecem de forma orgânica.

Eu gosto muito de repetir minhas peças favoritas, usar as roupas que eram da minha mãe e comprar roupas usadas. Fico muito feliz de visitar brechós e quando preciso comprar peças que já serviram seu propósito para alguém e agora vão me servir por muito tempo. 

Não vou mentir e dizer que quando passo em frente a Zara, H&M, C&A eu não sinto vontade de comprar alguma coisa, claro que eu sinto, as vitrines e os preços acessíveis foram feitos para gerar esse anseio em nós. Porém, imediatamente me vem esses pensamentos: quem produziu essa peça, quais materiais foram usados, quantidade de água necessária, quanta poluição foi gerada, eu realmente preciso dessa peça?

Eu acredito que fazer essas perguntas já é um primeiro passo muito importante, em segundo lugar podemos começar a cobrar dessas lojas, dessas empresas um posicionamento mais sustentável. Nós temos o direito e o dever de colocar nosso dinheiro em empresas que investem no nosso bem estar e do nosso planeta.