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Desde sempre, fui um curioso sobre o processo de Compostagem Domiciliar mas sempre tive receio e me faltavam referência e indicações de pessoas que praticassem essa atividade.

Parece fácil para quem mora locais com muito espaço, ou na área rural e tem um estilo de vida mais natural. E pra quem mora na cidade, como a maioria de nós? Já repararam o quanto de lixo a gente produz e o quanto reaproveitamos dele? Melhor ainda, já tiveram curiosidade para ver se TUDO que descartam é realmente lixo?

Em uma postagem anterior, falamos um pouco de Hábitos Sustentáveis e foi citado a prática de Compostagem Domiciliar. Por esses encontros do destino, eis que na minha turma de pós graduação em Responsabilidade Social e Terceiro Setor tive aulas com a turma de Economia e Gestão da Sustentabilidade onde tive o prazer de conhecer o Bruno, que adota a Compostagem Domiciliar e topou fazer essa entrevista bacana com a gente!

Para começar uma breve introdução do que é compostagem, enviada pelo nosso entrevistado:

A compostagem é um processo biológico onde os resíduos orgânicos são transformados em adubo. Nesse processo, os fungos, vermes e bactérias são responsáveis pela decomposição dos resíduos, transformando-os em húmus, um material muito rico em nutrientes e fértil. Com a compostagem, é possível reduzir em até 50% o lixo produzido por residência“.

Entrevista com Bruno Poses

1- Como começou seu interesse e quais os maiores desafios para iniciar a compostagem domiciliar?

Eu conheci a compostagem em uma viagem de voluntariado na Cidade Escola Ayni, um projeto que expressa possibilidades reais para diversas áreas da sociedade através de iniciativas nas áreas da educação, economia e agroecologia. Voltei de lá com a certeza de que precisava fazer algumas mudanças para honrar o planeta que me abriga e sustenta.

Nessa época, comecei a organizar vivências, cursos e retiros e fundei a Comunidade Terrapêutica. O primeiro conjunto de vivências da Comunidade Terrapêutica tinha o objetivo de trazer consciência para o ciclo da alimentação, e incluiu uma oficina de compostagem doméstica, outra de horta para pequenos espaços e um jantar com palestra sobre nutrição regenerativa.

Todas essas oficinas eram ministradas por pessoas com experiência nas respectivas áreas e, apesar de ter aprendido muito, não consegui colocar tudo em prática ao mesmo tempo. Tinha todo o material e conhecimento, mas a compostagem foi ficando para depois. O receio das reações em casa quando começasse a compostar foi me impedindo de tomar iniciativa. Será que minha família iria aceitar? E se desse cheiro ruim, mosca, como iriam reagir?

Tempos depois eu comecei a participar do Coletivo Lixo Zero Niterói e voltei minha consciência para a forma como minha família geria o lixo doméstico. Com a desculpa de falta de tempo, de estar sempre fora de casa, continuei postergando o início da compostagem em casa. Foi só no início da pandemia que eu percebi já não tinha desculpas para não começar a compostar. E a conversa com a família foi muito mais tranquila do que eu imaginava. No início jogavam muito lixo orgânico fora, mas com o tempo foram aprendendo o que podia e o que não podia ir para a composteira. Hoje a família toda está engajada no projeto da compostagem. 

2- O processo da compostagem domiciliar é o mesmo da compostagem convencional feita em lugares próprios para isso? Quais seriam as diferenças?

O lugar próprio para isso é o que a gente cria. Minha experiência em casa é com a vermicompostagem, que usa as minhocas para acelerar a transformação dos resíduos em húmus. Os cuidados necessários em cada tipo de compostagem são diferentes, mas eu não tenho muita propriedade para falar sobre outros tipos de compostagem.

Compostagem Domiciliar - Composteira Domiciliar
Exemplo de Composteira Domiciliar com uso de minhocas


A composteira é o recipiente usado para a compostagem doméstica. Pode ser um balde, uma caixa plástica ou até uma garrafa pet. Ela precisa ter furos para permitir a entrada de ar, a saída de umidade e a drenagem do chorume. O chorume é o excesso de líquido dos alimentos, que deve ser removido a cada dois dias a través de um torneira na parte de baixo das composteiras. Para controle de temperatura e umidade, é importante deixar a composteira abrigada do sol e da chuva. 


Dentro da composteira existe um ecossistema vivo, onde vermes e fungos colaboram para acelerar o processo de decomposição. Um sistema equilibrado precisa de controle de umidade (com matéria seca suficiente, boa drenagem, não exposto à chuva e arejado), controle de acidez (frutas cítricas, temperos fortes e flores e ervas aromáticas não devem ultrapassar 20%) e proteção de sol.


A matéria seca mais apropriada para a compostagem é a serragem, mas também podem ser usadas folhas secas, poda de grama e, numa situação de emergência, até papelão pode ser usado. A serragem não pode ser com madeira tratada com produtos químicos como verniz, por exemplo, pois os produtos químicos intoxicam os microorganismos participantes do processo. As folhas ou restos de poda precisam estar bem secos, o que você vai perceber pela cor marrom e pelo som característicos que as folhas secas fazer quando são dobradas.

Compostagem Domiciliar - Composteira por dentro

3- É verdade que fica um cheiro ruim e atrai insetos? Quais são os mitos e fatos para quem faz compostagem domiciliar?

Tudo depende de como você cuida da sua composteira. O composto precisa ser revirado diariamente para oxigenar o sistema. No momento do manejo, é possível que a matéria em decomposição esteja com cheiro ruim, principalmente se colocar carnes, peixes, laticínios e gorduras. Os resíduos precisam ser misturados com matéria seca e completamente cobertos para não exalar mau cheiro e evitar moscas e larvas. 


A aeração adequada também é importante para evitar mal cheiro, por isso a caixa digestora deve ter furinhos. Cobrir esses furinhos com um tecido fino tipo voil funciona como uma proteção extra contra moscas. 


Por mais cuidados que se tome, é muito difícil impedir a presença de insetos inesperados no meio do composto. É possível, por exemplo, que uma mosca deposite ovos na casca de algum alimento e esses ovos se tornem larvas dentro da caixa de compostagem. Embora o risco de larvas seja inevitável, uma solução com água, detergente e açúcar pode ser usada como isca para atrair e matar os insetos indesejados que podem aparecer. Outra estratégia interessante é ter um recipiente sempre bem tampado para armazenar os resíduos antes de jogar na caixa de compostagem.

Compostagem Domiciliar - O que pode e o que não pode ir

4- Em quanto tempo e como podemos utilizar o resultado (ou resíduos) da compostagem feita em casa? Todo produto é reaproveitável ou somente uma parte?

Logo nos primeiros dias é possível aproveitar o chorume como adubo líquido. O tempo mínimo para utilizar o adubo sólido é de 60 dias. Quanto mais picados ou triturados os resíduos estiverem, mais rápido o processo de decomposição vai se completar. Antes de usar, é importante se certificar de que o composto está com aspecto de terra, sem pedaços de alimentos identificáveis. 

Compostagem Domiciliar - Aspecto final 1


Todo o produto é reaproveitável! Uma parte maior vai pro jardim ou pra horta e a outra deve ser separada para adaptação das minhocas na caixa que vai começar a receber os resíduos. Tem gente que gosta de peneirar o composto pronto para separar elementos mais duros do húmus, mas isso não é necessário.

5- Se eu quero melhorar meus hábitos sustentáveis e me aventurar no processo de compostagem domiciliar, quais as opções que eu tenho além de fazer o processo todo na minha casa?

Aqui em Niterói, a Roda Verde Compostagem faz a coleta dos resíduos nas casas dos clientes e depois retorna o adubo pronto e outros brindes em troca do pagamento de uma mensalidade. Mais informações no site https://www.rodaverdecompostagem.com.br/

Agradecimento e fechamento do Entrevistado

Duas pessoas foram especiais para mim no aprendizado sobre compostagem e eu gostaria de fazer um agradecimento especial a elas. A primeira é a Priscila Arruda, que foi a facilitadora nas oficinas de compostagem organizadas pela Comunidade Terrapêutica. A segunda é a Ana Lemos, da Morada da Floresta, que me vendeu a composteira Humi. As duas produzem conteúdos ótimos sobre compostagem e foram minhas mentoras e grandes apoiadoras.
Através da compostagem, eu hoje me sinto mais responsável pelos resíduos da minha casa e sei que estou fazendo um bem para mim mesmo, para as minhas plantas e para o planeta.

Compostagem Domiciliar - Foto Bruno Poses
Bruno Poses é um apaixonado pela natureza. Nascido em Resende, se mudou para Niterói com 18 anos para estudar. Trabalha com Gerenciamento de Contratos na Accenture e como Social Media voluntário do Coletivo Abrace, uma associação sem fins lucrativos voltada a promover assistência e valorização da cidadania da população carente em Cabo Frio. É bacharel em Economia na UFF e pós-graduando em Economia e Gestão da Sustentabilidade na UFRJ. Antes da pandemia, era instrutor de Yoga e realizava eventos com a finalidade de promover o bem-estar das pessoas em harmonia com a Terra através da Comunidade Terrapêutica.

E aí, animados para começar a fazer compostagem domiciliar? Confesso que estou e não vejo a hora de pôr em prática os conselhos e dicas que o Bruno nos passou. Ah, e pra quem mora no Rio de Janeiro, outra dica bacana é o Ciclo Orgânico que também recolhem o material nas residências e trocam por adubo mediante mensalidade.

Assim que eu começar eu volto aqui e coloco fotos, combinado? Preciso ver qual das práticas é a mais adequada pra minha realidade. Vou adorar se vocês compartilharem suas experiências e dúvidas aqui conosco!

Nossa eterna GRATIDÃO ao Bruno por seu tempo e atenção em colaborar com a gente compartilhando sua experiência. A casa é sua Bruno! Quando quiser voltar com outros Hábitos Sustentáveis, estamos à sua disposição! Quem quiser conhecer mais sobre o Bruno e suas ações sustentáveis pode buscá-lo em suas redes sociais.

Se você também tem experiência ou pratica alguma rotina de sustentabilidade, entra em contato com a gente e compartilhe. Esse é um espaço para dispersão de conhecimento em práticas sustentáveis. Colaborem!

João Ricardo Saraiva

Apaixonado pelo meio ambiente, praticante de esportes, viciado em Coca-Cola, guloso por sabores, devoto da minha família, fiel a meus amigos, tio do doguinho mais fofo Elton John, viajante por natureza, embaixador da ARGILANDO, curioso por conhecimento e, agora, criador de conteúdo junto com vocês.

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